Do ego ao eco: partidos políticos pelos direitos dos animais organizam bem-sucedida conferência mundial
“Precisamos de uma mudança em todo o sistema. Em vez de focar no crescimento econômico, nossos sistemas econômicos, sociais e políticos devem servir ao bem-estar das comunidades, animais e ecossistemas. ”Essa é uma das conclusões da bem-sucedida conferência mundial “Eco-crise: virando a maré”, que foi realizada nos dias 6 a 9 de setembro na cidade do Porto em Portugal. Representantes de 28 países diferentes se uniram por intermédio dos partidos pelos direitos dos animais dos Países Baixos e Portugal para discutir soluções para a crise ecológica que o mundo está a enfrentar. Eles aproveitaram a oportunidade para protestar contra o desastroso acordo comercial entre os países do Mercosul e a União Europeia, em frente ao consulado brasileiro, e se juntaram aos deputados do Parlamento Europeu Anja Hazekamp (Partido para os Animais) e Francisco Guerreiro (PAN: People- Animais-Natureza).
Em maio de 2019, foi publicado um relatório da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas das Nações Unidas sobre Serviços de Biodiversidade e Ecossistema (IPBES – sigla em inglês). A conclusão final é que os atuais esforços globais são insuficientes para impedir o declínio sem precedentes da natureza e a extinção de espécies. Mudanças sociais radicais e fundamentais são necessárias para deter a perda de biodiversidade e restaurar a natureza.
Portanto, no final de semana passado, representantes de 16 partidos políticos pelos direitos dos animais e 33 organizações e profissionais de 28 países diferentes voltados para o meio ambiente se reuniram para discutir uma maior cooperação no enfrentamento da eco-crise. O programa da conferência estava repleto de palestras e workshops de cientistas e especialistas.
Sustentabilidade como norma, não como exceção
Ingrid Visseren, palestrante na conferência e coautora do relatório do IPBES, explicou que a indústria pecuária, o desmatamento, a pesca e a caça são algumas das principais causas da crise ecológica. Devido a essa crise, nossa segurança alimentar e qualidade de vida estão em risco. Visseren defendeu uma abordagem mais integrada entre o bem-estar animal e as políticas ambientais. Ela ressaltou a importância do fato de que no último relatório do IPBES o bem-estar animal é mencionado pela primeira vez e é usada uma abordagem baseada nos direitos dos animais.
“Temos que trabalhar com combinações inteligentes de políticas. Sair da economia insustentável e entrar em uma economia sustentável. Ajudar os agricultores a fazer uma transição para uma agricultura sustentável e mais baseada em plantas e oferecer escolhas reais aos consumidores. A sustentabilidade deve se tornar a norma, não a exceção”, concluiu Visseren.
Os próprios convidados da conferência compartilharam diferentes problemas e melhores práticas de seus países. Por exemplo, o partido espanhol pelos direitos dos animais, PACMA, compartilhou como eles lutam com sucesso contra a caça na Espanha, usando o sistema jurídico espanhol e as organizações ucranianas explicaram como eles lutaram contra manter animais selvagens em cativeiro e contra a poluição por grandes fazendas de gado. E também, Mohamed Benata, um dos primeiros ativistas ambientais no Marrocos, compartilhou sua pesquisa sobre biodiversidade em seu país.
28 países protestam em frente ao consulado brasileiro
O que acontece quando você coloca juntos ativistas e políticos que desejam fazer uma mudança positiva durante uma conferência? Ação, é claro. Os convidados da conferência saíram da conferência por algumas horas para protestar coletivamente contra a destruição da floresta amazônica e o chamado “acordo Mercosul”, em frente ao consulado brasileiro no Porto. Durante o protesto, alguns convidados levantaram uma carta, criando a frase “Salve a Amazônia, pare o Mercosul!”. Outros exibiram fotos da Amazônia e declarações como “Produção animal = desmatamento”.
O acordo do Mercosul é um acordo comercial entre países da América do Sul como o Brasil e a União Européia (UE), mas incentiva a criação de gado brasileira, responsável por 80% desse desmatamento da Amazônia. Estima-se que o Brasil desmata uma área equilavente a um campo de futebol a cada minuto, enquanto as plantações de soja que fornecem ração animal também contribuem para a devastação ecológica.
Os parlamentos nacionais precisam ratificar o acordo do Mercosul, de modo que ainda há esperança de que o acordo seja interrompido. Além disso, o Parlamento Europeu também tem o poder de dizer não ao acordo. Por isso, deputados do Parlamento Europeu Anja Hazekamp (Partido para os Animais dos Países Baíxos) e Francisco Guerreiro (PAN de Portugal) lideraram o protesto no Porto e gravaram uma mensagem em vídeo para o mundo.
"Só falar não será eficaz se a UE continuar a seguir com as atuais políticas comerciais e agrícolas desastrosas. As florestas estão sendo incendiadas e os direitos humanos e animais são sacrificados por carne barata. Precisamos de uma mudança de política e legislação. Como políticos responsáveis, precisamos interromper o acordo com o Mercosul”, explicou Hazekamp.
O protesto terminou com a criação de um grafite na cidade, liderado pelo artista local PANT.Artworks.
Palestra de Marianne Thieme: do ego ao eco
Paralelamente à conferência, Marianne Thieme, líder e fundadora do Partido para os Animais dos Países Baixos, fez uma palestra pública sobre a importância de um tipo diferente de política e o corte no consumo de carne para proteger ambientes naturais preciosos como a Amazônia. Claramente, tópicos em que o público português está muito interessado, pois a palestra de Thieme estava completamente esgotada.
Sejam incêndios florestais, perda de biodiversidade, mudanças climáticas ou sofrimento animal, segundo Thieme, tudo se resume ao mesmo problema: pensamento de curto prazo e egoísmo dos seres humanos. "Estou convencida de que, para mudar nosso modo de vida, torná-lo sustentável e fundamentado em princípios de compaixão, precisamos mudar nosso foco de uma perspectiva centrada no homem para uma perspectiva centrada no planeta", concluiu Thieme.
A palestra foi apresentada por Bebiana Cunha, membra do conselho da cidade do Porto e candidata às eleições parlamentares portuguesas em outubro. Como integrante do partido português para os direitos dos animais, o PAN, ela enfatizou as mudanças na política que o PAN está a tentar fazer para criar um sistema mais ecocêntrico. O PAN agora tem um assento no parlamento português, mas provavelmente conseguirá eleger mais assentos nas próximas eleições em outubro.